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Nº inventário:
PCIC.90
Designação:
Círio Saloio de Nossa Senhora do Cabo Espichel em São Domingos de Rana
Descrição:
O culto mariano ao Promontório do Cabo Espichel, encontra-se documentado pela primeira vez numa carta régia de D. Pedro I, datada de 1366 (PATO, 2008:59,95-97; NOÉ, 2013). Embora possa ter tido outra evocação, inicialmente, que não a de Nossa Senhora do Cabo, tal como afirmam Vitor Serrão e Eduardo da Cunha Serrão (1997:118), pois o "local propiciatório de práticas cultuais, talvez suscitadas, desde tempos muito recuados, pelas pegadas de dinossáurios". Sugere-se a análise da monografia de Heitor Baptista Pato (2008) que muito dignifica o tema pela sua profunda investigação do tema. Esta devoção constitui assim uma das mais antigas demonstrações de religiosidade popular em Portugal. A origem da devoção a Nossa Senhora do Cabo Espichel, embora seja anterior ao relato lendário associado à imagem de Nossa Senhora, o seu maior impacto do culto segundo uma manifestação coletiva e organizada, identifica-se com a origem numa lenda e na criação da Confraria do Círio dos Saloios de Nossa Senhora do Cabo Espichel. Em termos lendários, a que mais se identifica com Cascais, apesar de algumas variações, resume-se ao descrito por José d`Encarnação: "A lenda nasceu por volta de 1410. Um velhote de Alcabideche apercebera-se, por diversas noites, de que, do lado de lá do rio, para as bandas do Cabo Espichel, havia uma luz diferente, como se de especial estrela se tratasse. E tanto começou a cismar no caso que teve, em sonhos, uma admonição: a luz irradiava de uma imagem de Nossa Senhora que ali estaria, à espera que a recuperassem e lhe prestassem culto. Meteu pés a caminho. Pernoitou na Caparica, onde contou à hospedeira ao que vinha. Impressionada, a mulher sentiu também ela, durante a noite, uma força irresistível que a impeliu, manhã cedo, para as bandas do cabo e aí a foi encontrar, horas depois, o velhote de Alcabideche, prostrada diante da imagem, que, no século XIII, pertencera (rezam os livros) a Hildebrando, frade eremita de S. Agostinho, viajante rumo a Lisboa numa embarcação ali naufragada." (2004:28). Esta lenda e o seu ano em concreto encontram-se fundamentados por muitos autores, e no caso de Heitor Baptista Pato (2008:94-95) muito bem esclarecida. Este, clarifica ainda a sua interpretação da forma de comunicação peculiar associada a estas descobertas, considerando que "(...) é muito frequente que a Senhora comunique através de sonhos com o achador, num processo a fazer recordar inevitavelmente a prática da incubatio romana; como veremos, é precisamente o que se relata numa das lendas do Espichel." (2008:58). Embora exista o relato de culto anterior, tal como mencionamos anteriormente, após a descoberta da imagem de Nossa Senhora no Cabo Espichel, o espaço intensificou-se com as romarias dos crentes com a distinta presença dos habitantes de territórios da região saloia. A importância deste ritual de peregrinações efetuadas pelos populares da região, contribuí, assim, para a implementação de uma organização, a Confraria do Círio designada por Saloio de Nossa Senhora do Cabo Espichel. A origem do objetivo da realização do Círio, enquanto sinal de luz e crença mariana para uma proteção do trabalho e da saúde, determina a promessa de realizar uma celebração anual por parte de paróquias da zona saloia do Termo de Lisboa, dos atuais concelhos de Cascais, Lisboa, Loures, Mafra, Odivelas, Oeiras e Sintra, que se uniram com esse propósito e assinaram um Compromisso de realização de um giro por parte de cada uma, na capela do Cabo Espichel, "A constituição de um culto anual, organizado em giro de freguesias, é dada como sendo de 1430." (TEIXEIRA, 1991:105). A organização da Confraria e a realização do Giro do Círio dos Saloios de Nossa Senhora do Cabo Espichel de acordo com o estipulado no Compromisso, através da participação de três paróquias, a de S. Vicente de Alcabideche, a de S. Domingos de Rana e a de Ascensão e Ressurreição de Cascais, conduziu assim a uma evocação a Nossa Senhora do Cabo Espichel com participação cascalense desde 1431. As celebrações do Círio dos Saloios de Nossa Senhora do Cabo Espichel decorrem de acordo com as regras definidas nos Compromissos estabelecidos, pois "Do ponto de vista protocolar, a sucessão dos actos cerimoniais não era (como ainda não é) livre, implicando formulário que exigia encenações prévias por parte de todos os actores, em obediência às normas do regimento, se bem que cada localidade programasse os festejos de forma independente." (SOARES, 2013:317). A paróquia de São Domingos de Rana recebeu o Círio de Nossa Senhora do Cabo Espichel em 1445 (SOARES, 2013:337) pela primeira vez, seguindo-se os anos de 1475, 1505, 1535, 1565, 1595, 1625, 1655, 1685, 1714, 1740, 1766, 1792, 1818, 1844, 1869, 1895, 1946, 1972, 1997 e este ano de 2023 é anfitriã novamente. O ritual relacionado com esta manifestação religiosa, no que respeita à paróquia de S. Domingos de Rana encontra-se descrito por Maria Micaela Soares (2013:337-349) onde nos reforça a posição hierárquica desta paróquia em 13.º, face às 26. A autora no decurso da sua investigação relativa ao tema defende que um dos rituais consiste na realização de um ato de louvar através de versos laudatícios à Virgem, designados por loas, que se realizam em espaços definidos na freguesia para a procissão. Ressalva ainda a autora a menção às recomendações descritas no Compromisso para a sua redação, música e vozes de interpretação, para que que fossem efetuados de forma percetível (SOARES, 2013:318). A paróquia de S. Domingos de Rana recebeu em 1997 o Círio Saloio adornando as ruas para o percurso da procissão, igreja, ruas e estabelecimentos (Jornal Costa do Sol, 13/11/1997, N.º 1541 - ANO XXXIV). O Círio da Senhora do Cabo parte da igreja de Nossa Senhora do Amparo de Benfica, no dia 23 de novembro num cortejo automóvel, tendo a imagem sido transportada num veículo dos Bombeiros Voluntários de Carcavelos, até ao Colégio Maristas de Carcavelos, ponto de partida da procissão (Jornal Costa do Sol, 13/11/1997, N.º 1541 - ANO XXXIV). Nela participaram elementos das forças de segurança, grupos religiosos, musicais, culturais e desportivos. Assim, alinharam-se nesta procissão a GNR a cavalo, a Legião de Maria Praesidium de Nossa Senhora do Mar, a Fanfarra dos Bombeiros da Parede, a Banda da Sociedade Recreativa Familiar da Malveira da Serra, o Grupo de Instrução Musical Beneficência da Rebelva e o Grupo de Solidariedade Musical e Desportivo Talaíde, o Grupo Etnográfico Sete Castelos, o Grupo Desportivo União de Rana, o Clube Desportivo do Arneiro, o Clube de Futebol Sassoeiros e a Sociedade Columbófila de S. Domingos de Rana (MARQUES, 2007:200). No período entre 1997 e 1998, a imagem peregrina de Nossa Senhora do Cabo Espichel visitou algumas capelas e localidades permitindo assim a realização de diversas manifestações religiosas e agrado dos crentes e populares locais, cujo acontecimento ficou perpetuado num pequeno livro intitulado "Nossa Senhora do Cabo na Paróquia de S. Domingos de Rana". Em janeiro deslocou-se ao Mosteiro de Santa Maria do Mar e nos meses seguintes aos bairros da Mina, Pinhal, Arneiro e Sassoeiros, Trajouce - Abóboda, Cabeço de Mouro, Talaíde - Tires e Madorna. A despedida da veneranda imagem de Nossa Senhora do Cabo ocorreu aos 12 dias do mês de setembro de 1998, aquando da sua transferência para São João das Lampas. No ano de 2023, a 14 de outubro de 2023 o Círio Saloio com a imagem peregrina de Nossa Senhora do Cabo Espichel regressou à paróquia de S. Domingos de Rana e realizou-se a procissão noturna desde a igreja de Sassoeiros rumo à igreja de S. Domingos de Rana. No percurso rezou-se o terço, entoaram-se as loas e recebeu-se Nossa Senhora com muita fé e participação dos crentes. No dia seguinte, a 15 de outubro realizou-se a missa na igreja e durante um ano a imagem cruzará pela paróquia, mantendo a tradição.
Localização:
Europa\Portugal\Estremadura\Lisboa e Vale do Tejo\Grande Lisboa\Cascais; São Domingos de Rana

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