O museu não detém a propriedade de direitos autorais e não se responsabiliza por utilizações indevidas praticadas por terceiros. Saiba mais


Nº inventário:
PCIC.36
Designação:
Ofícios. Moleiro
Descrição:
As estruturas de moagem existentes no concelho de Cascais são, em conjunto com as atividades realizadas a nível museológico (Espaço Museológico do Moinho de Armação, Tipo Americano de Alcabideche) o último testemunho da importância económica da moagem em Cascais. No concelho subsistem cerca de cinco dezenas de estruturas de moagem, de diferentes tipologias, encontrando-se a maioria em mau estado de conservação. Contudo, este número revela a importância da antiga tradição de moagem no concelho. A estas construções, que se impõem na paisagem, estão inerentes valores arquitetónicos, históricos e etnográficos de grande relevância. As quatro tipologias de moinhos existentes em Cascais são: os de água, ou azenhas; os moinhos de vento; os de elevação de água e os moinhos de armação tipo americano. A localidade de Alcabideche é a que mantém um maior número destas estruturas e a que agrupa a totalidade das tipologias referenciadas, num raio de poucos quilómetros. As azenhas funcionavam num regime de complementaridade com os moinhos de vento, alternando o funcionamento de acordo com a ordem natural do tempo. De um conjunto mais vasto destas estruturas destacamos a azenha de Atrozela; os Moinhos da Quinta dos Cinco Ventos, nos quais foram contemplados todos os princípios técnicos da moagem tradicional ligados aos moinhos de Torre e o Moinho de Armação tipo americano, único desta tipologia a nível nacional, reabilitado e a funcionar. O Moinho de Armação tipo americano encontra-se classificado como Imóvel de Interesse Municipal (Boletim Municipal de 2/11/2011). Era uma pequena exploração fabril, cuja construção ocorreu durante a 1ª década do século XX, na sequência dos conhecimentos adquiridos por José Roquete, ferreiro de profissão, que, em 1893, rumou à América, onde visitou a exposição Mundial de Chicago. Nesta exposição observou os vários tipos de moinhos expostos e tirou referências necessárias à fabricação dos aeromotores, que veio a implementar posteriormente em Portugal. Executou ainda várias melhorias ao original, nomeadamente a nível da roda de pás, adaptando o seu formato em saco e aproveitando, desta forma, uma maior energia do vento. A José Roquete deve-se igualmente a criação de uma peça que se julga única: o macaco da mó, cuja vantagem residia na redução da taxa de esforço para a deslocação da mesma, aliada à sua durabilidade. Devido às características singulares das suas mós este moinho moí três tipos de cereal: trigo, centeio e cevada. Contudo, a difusão desta tipologia de moinho foi escassa, provavelmente pelo seu elevado custo de construção, dado que utiliza um número considerável de peças em aço e ferro, contrariando as técnicas mais rudimentares e mais acessíveis utilizadas nos moinhos de vento de torre e nas azenhas, onde predominava a madeira, trabalhada pelos próprios moleiros. A recuperação do moinho foi levada a cabo pela Câmara Municipal de Cascais. Atualmente, encontra-se em perfeito estado de conservação e em funcionamento, sendo um polo museológico muito procurado nomeadamente pela comunidade educativa e sénior. O conhecimento, a valorização, e a divulgação do saber-fazer, relacionado com a profissão de moleiro, é transmitida às gerações futuras através de um conjunto de atividades concebidas pela equipa do Espaço Museológico do Moinho de Armação, Tipo Americano, em Alcabideche, nomeadamente pelo seu responsável, Dr. António Paraíso Nunes. Este processo de conhecimento das atividades que eram desenvolvidas pelo moleiro, a par do processo de confeção do pão, passa por um conjunto de etapas que são desenvolvidas no moinho e no centro de interpretação, a saber: Etapa: limpeza e moagem do cereal. De forma a obter a farinha de trigo ou centeio, inicia-se o processo de seleção e limpeza do cereal em grão, retirando-o da saca para colocação na máquina de seleção de cereal. Após este processo, onde o cereal vai sendo canalizado para as várias caixas da máquina, segundo o seu tamanho e impureza, retira-se o cereal limpo, entretanto armazenado na última caixa. De seguida é colocado no tegão situado sobre as mós, dando início ao processo de transformação do grão em farinha. Após esta tarefa o cereal moído é transferido para a zona dos ateliers onde se dá início à separação da farinha do farelo, obtendo a matéria-prima necessária para a obtenção da massa. Relativamente à moagem do milho, este não passa pela máquina de seleção de cereal, tendo um processo de apuro e limpeza diferente. Desta forma, e após se retirar o milho da saca, é colocado no crivo e posteriormente joeirado de forma a ser limpo e retiradas as impurezas. Após este processo é colocado no tegão para ser transformado pelo casal de mós em farinha. Obtida a farinha, a exemplo do que acontece com a farinha de trigo é levado para a zona de ateliers onde se vai dar início à sua limpeza através da peneira, obtendo a matéria-prima necessária para a obtenção da massa. Etapa: peneira e obtenção da massa de pão. Já no interior do espaço expositivo e dos ateliers, dá-se início ao trabalho de peneirar a farinha. Nesta fase, os visitantes, a exemplo das tarefas anteriores, têm um papel ativo em todo o processo. Com a peneira fina, agitam o cereal moído para que a farinha permaneça no alguidar, ficando na peneira apenas o farelo. Com a farinha obtida dão início à elaboração da massa para a qual juntam fermento, sal e água morna. Este processo respeita a tradição secular, segundo informações recolhidas junto dos antigos padeiros/os e moleiros do concelho de Cascais. Com a coordenação dos funcionários afetos aos ateliers, a farinha é colocada em alguidares, onde as crianças, jovens ou adultos, juntam o sal e o fermento em quantidades pré-definidas misturando de seguida, para posteriormente ser adicionada água morna. Através deste processo começa-se a obter a massa de pão que depois de muito amassada pelas mãos dos participantes, ganha a consistência necessária que permite que cada um dê a forma que pretende ao seu pão. De seguida a mistura fica a descansar, permitindo a sua levedura. Etapa: cozedura e distribuição. Com o forno quente, e após verificação da temperatura adequada, o pão é levado a cozer. Este processo é o único em que as crianças não têm uma participação ativa pelo perigo da ação. No entanto, assistem à tarefa com bastante entusiasmo por saberem que se trata do último passo para a obtenção do tão desejado pão. Assim que estes se encontram cozidos é feita a entrega do pão a cada participante, sendo que na maioria dos casos são consumidos ainda quentes e antes do término da visita. Durante a realização destas atividades e no decurso do processo de levedar da massa decorrem ações de sensibilização do património material e imaterial relacionado com o ofício do moleiro. Enquanto o pão fica a levedar e vai para o forno, os grupos de visitantes são convidados a conhecer a exposição permanente sobre os moinhos existentes no concelho de Cascais. Assim, é realizada uma visita guiada à exposição, sensibilizando os participantes para a importância das estruturas de moagem na economia local, a razão da existência de um número tão elevado em Cascais, as várias tipologias existentes e os métodos de construção, aliados ao legado árabe. É ainda referido o contexto do aparecimento das moagens industriais que ditaram o declínio da moagem tradicional. Estas etapas são, na generalidade, transversais a qualquer atividade temática do equipamento, diferenciando apenas a última etapa, consoante a época do ano e a atividade específica. O processo de moagem, da produção do pão e da manutenção dos moinhos é ainda transmitida pelo Sr. Mário Correia, cuja infância e juventude esteve associada à função, tendo acompanhado o seu pai, o Sr. Joaquim Correia (já falecido) moleiro desde os 14 anos e que se manteve neste ofício até 1983, a par com a sua outra profissão de condutor de pesados.
Localização:
Europa\Portugal\Estremadura\Lisboa e Vale do Tejo\Grande Lisboa\Cascais

Informação Relacionada
Multidescritor

A carregar...

Copyright © 2022 Cascais Todos os direitos reservados | Desenvolvido por SISTEMAS FUTURO
in web Acesso online à coleção Sistemas do Futuro